Aquisição da Bun pela Anthropic e o Efeito Claude Code: O Futuro da Engenharia Já Chegou, e Não Estamos Preparados
Uma avaliação técnica e estratégica da aquisição da Bun pela Anthropic e do rápido crescimento do Claude Code, considerando implicações para infraestrutura, mercado de IA e ecossistema JavaScript.

James
Backend developer passionate about building scalable systems and sharing knowledge.
Existe um padrão curioso na indústria tech: toda década alguém decide "reescrever a computação". Às vezes dá certo (Docker, Kubernetes, V8). Às vezes vira um cemitério de boas intenções (Node core modules, lembram?). Agora, em 2025, isso ganhou um upgrade: não é mais só sobre ferramentas, é sobre reconstruir a infraestrutura que vai servir de esqueleto para agentes de IA autônoma.
E o anúncio da Anthropic no dia 3 de dezembro é exatamente isso:
Bun foi adquirido. Claude Code bateu US$ 1 bilhão de run-rate em seis meses.
E não, isso não é apenas "mais um M&A". É uma mudança de placa tectônica.
IA está escrevendo software, e empresas gigantes já estão deixando
Claude Code começou como uma ferramenta interna. Um “assistente de engenharia”. A promessa era simples: tornar os engenheiros da Anthropic mais rápidos.
Mas alguém lá dentro fez a pergunta inevitável:
"E se soltarmos isso pro mundo?"
O resto é história:
- A Netflix adotou.
- A Salesforce adotou.
- A KPMG adotou (!).
- A L'Oréal adotou (!!).
Sim, a ferramenta está sendo usada desde big tech até corporações tradicionais que normalmente demorariam 18 meses pra aprovar um cabeamento de rede.
Claude Code não é só um autocomplete glorificado. Ele faz:
- análise de bases de código gigantes;
- criação de pipelines CI/CD completos;
- geração e refatoração de serviços inteiros;
- manutenção repetitiva sem reclamar (algo que dev nenhum quer fazer);
- integração com ambientes de produção.
A parte mais impressionante? US$ 1 bilhão por ano em seis meses.
Hoje, isso só é comparável ao boom inicial do GitHub Copilot e ao lançamento do ChatGPT Enterprise. Ou seja: o mercado gritou bem alto que está pronto para deixar máquinas fazerem as partes chatas do nosso trabalho.
Antes da IA entrar em campo, uma outra peça já estava mudando o jogo: Bun
Se você desenvolve backend em JavaScript ou TypeScript, já teve aquele momento “pera, por que isso é tão rápido?” usando Bun.
Desde 2022, o runtime virou uma alternativa real ao Node.js e ao Deno. E não era só barulho. Era velocidade real:
- runtime rápido
- bundler rápido
- test runner rápido
- package manager rápido
- tudo num único binário
Se existe um tema recorrente no ecossistema JS é fragmentação. O Bun veio justamente pra dizer: “e se a gente parasse com isso?”
Resultado:
- 82k+ stars no GitHub
- 7 milhões de downloads por mês
- usado em empresas como Midjourney e Lovable, onde latência milimétrica vale dinheiro real
E aí vem o detalhe que pouca gente percebeu: a Anthropic já usava Bun antes da aquisição. Muito. Em produção. Para pipelines críticos.
Quando uma empresa de IA multibilionária passa a depender de um runtime JS mantido por um time minúsculo, você já sabe o que acontece a seguir:
ou ela financia, ou compra.
E dessa vez, optaram pela segunda.
Por que comprar? Porque controlar o runtime é controlar o futuro da automação
Quando você olha a história da computação, percebe um padrão:
- Google domina V8
- Meta criou Hermes
- Microsoft controla .NET
- Amazon otimiza Java e Rust para Lambda
Quando você controla o runtime, você controla:
- performance
- interoperabilidade
- custo de operação
- roadmap
- ecossistema
E agora, com agentes autônomos escrevendo e executando código 24/7, isso se torna crítico.
Claude Code não é mais “um editor que sugere código”. Ele:
- compila
- roda
- observa logs
- faz deploy
- refatora
- faz rollback
- cria novos serviços
- testa pipelines
Tudo isso requer um runtime otimizado não para humanos, mas para máquinas escrevendo programas para outras máquinas.
E nesse mundo, Node.js simplesmente não nasceu preparado.
O discurso oficial da Anthropic
Mike Krieger, hoje CPO da Anthropic, foi direto: o Bun representa a “excelência técnica” que eles querem integrar. Não é sobre hype. É sobre:
- velocidade real
- engenharia feita do zero
- foco no mundo real (não em comitês burocráticos)
Eles garantiram que o Bun continua open source e sob MIT. Isso é ótimo, mas não inocente.
Manter open source ajuda na imagem e dá aquela sensação de neutralidade para a comunidade. Mas agora:
- o roadmap é da Anthropic;
- as prioridades são da Anthropic;
- o foco é Claude Code.
Ou seja: open source não significa democrático.
Benefícios: por que isso é grande, muito grande
1. Claude Code fica ainda mais rápido
Não é sobre “rodar scripts”. É sobre:
- análise massiva de bases de código
- reconstrução de projetos inteiros
- agentes autônomos escrevendo pipelines completos
O runtime vira peça do motor.
2. Ambiente inteiro verticalizado
A Anthropic está praticamente criando um VSCode+Node+Vercel+CI/CD+Linter dentro do Claude Code.
Tudo num fluxo só. Tudo otimizado para IA.
3. Custos menores = margem maior
Num mundo em que servidores executam milhões de tarefas de engenharia por dia, cada milissegundo vira dinheiro.
4. O mercado de runtimes agora é sobre IA
A corrida não é mais Node vs Deno vs Bun. É quem consegue servir agentes mais rápido.
Riscos: o que pode dar muito errado
1. Centralização absurda
Se Claude Code dominar market share, o Bun evoluirá para servir apenas Claude Code.
Comunidade? Segundo plano.
2. Node.js pode perder relevância
O ecossistema JS já é fragmentado o suficiente.
Isso pode virar um novo Angular vs React, só que na infraestrutura.
3. Dependência corporativa de IA proprietária
Empresas passam a depender não só de um modelo fechado, mas também de um runtime fechado na prática (apesar do MIT).
4. Lock-in disfarçado
Open source no papel.
Roadmap corporativo na prática.
5. Impacto direto no mercado de trabalho
Se Claude Code automatiza tarefas inteiras, a curva de aprendizado da engenharia vai mudar.
Isso não é “futuro”, isso é já.
O que isso significa pra engenharia de software como um todo
Prepare-se para ver tendências como:
- runtimes otimizados para agentes
- pipelines CI/CD escritos pela IA
- infraestrutura que responde a ações autônomas
- IDEs que viram copilotos proativos
- empresas medindo produtividade por “velocidade dos agentes”, não por commits humanos
Parece radical?
Sim.
Mas é exatamente o que Docker parecia em 2014.
E olha onde chegamos.
Conclusão: Bun + Anthropic não é só uma aquisição, é uma declaração de guerra
O movimento deixa claro:
A Anthropic não quer apenas competir com OpenAI, Google ou Microsoft.
Ela quer controlar a stack da próxima era da engenharia.
O Bun deixa de ser “mais um runtime” e passa a ser parte da estratégia global para escalar agentes autônomos escrevendo software.
Se isso é bom ou ruim ainda não dá pra saber.
Depende da governança.
Depende da comunidade.
Depende de como o mercado reage.
Mas uma coisa é certa:
A era em que escrevíamos cada linha de código manualmente está acabando.
E o que vier depois disso vai depender muito das escolhas que fizermos agora.
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